terça-feira, 22 de março de 2011

Velha...


Tanta vida. Tanta vida vivida. Tanta vida por viver. Será que a idade que nós temos está mesmo no RG ? Penso que sou muito velha. Sim, minha juventude e imaturidade escondem uma velha. Sou rabugenta, reclamona, tenho manias relacionadas à objetos e à posse deles, gosto de fazer bolo pra receber visita, bolo de fubá, de chocolate se a visita preferir, gosto de ficar quieta, que me deixem ser invisível esquecida numa canto da sala perdida em meus pensamentos, gosto de ouvir músicas velhas, cafonas até, gosto de ler, de sentir o cheiro das páginas e morro de ciúmes do objeto viajador que chamam de livro, gosto de escrever sobre a vida vivida e a vida que não vivi, gosto de lembrar dos amigos do passado com os quais troco cartas eletrônicas dizendo de como sentimos falta daquele tempo, tenho poucos amigos, não recebo muitas visitas, passo o dia refletindo e matutando sobre tudo, me perco na minha própria cabeça e muitas vezes as pessoas não entendem a intensidade do que eu quero lhes falar, acho bonito botar grampos no cabelo e usar vestidos, gosta da companhia silenciosa dos gatos, tenho o olhar perdido, tenho um ar sublimado de loucura, gosto de relembrar, as pessoas não me dão muito valor, não levam o que eu falo muito à sério, acham meus conselhos “meio sem pé nem cabeça”, não sabem que eu já vivi, que eu já sofri perdas irreparáveis, já amei com a força da minha alma, já chorei, já calei, já senti, já fui insensível, já rezei pra morrer, já me cansei dessa vida, já perdi a esperança, já achei que não tinha mais o que inventar pra fazer nesse mundo, já olhei a morte com indiferença, já olhei a vida como coisa qualquer, já tive medo de partir sem deixar nenhum legado, já tive medo de morrer e não ter quem chore por mim, já estive rodeada de amigos, já estive na mais profunda solidão olhando horas a fio para parede branca de um quarto, já fui triste, já fui feliz, gosto de sapatos confortáveis e de roupas floridas, gosto de olhar os jovens e rir das suas imaturidades, acho que ainda não vivi o suficiente pelos planos de viagem que eu me fiz, gosto de laçarotes e rococós, e pó branco e rouge, gosto de ser quem eu sou, sonho em ser outra coisa, amo reticências... Se eu não falasse minha idade talvez achasse você que sou sua vó. Mas não tenho a cabeça branca nem rugas na cara. Tenho uma alma marcada, mas que mesmo cansada, sabe que muitas macas ainda receberá. Sei que muitos dirão que ainda não vivi nada. Concordo. Ainda quero viver muito mais, preciso ter filhos, netos, pra quem sabe então eles me reconheçam como eu realmente sou, e vejam nos meus olhos o brilho da juventude. Mas vou lhes contar um segredo, no fundo nem eu mesmo me reconheço, e os meus textos ora, são assim, metade da velha covarde e doce que mora em mim, metade da jovem perdida e curiosa que conheces de outrora.

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